A Sabedoria Divina na Distribuição de Riquezas e Alegrias
- Rodrigo Guerra

- 14 de jul.
- 5 min de leitura
Eclesiastes 2:26 "Ao homem que lhe agrada, Deus dá sabedoria, conhecimento e felicidade. Quanto ao pecador, Deus lhe dá a tarefa de ajuntar e armazenar riquezas para entregá‑las a quem é do seu agrado. Isso também é inútil; é correr atrás do vento."
A vida, com suas complexidades e aparentes injustiças, é um tema central no livro de Eclesiastes. O Pregador, ou Coélet (ou Qohelet, em hebraico) que é o termo original para o autor do livro bíblico de Eclesiastes. A palavra significa, literalmente, "aquele que fala na assembleia", "pregador" ou "mestre", como é conhecido, investiga profundamente o sentido da existência sob o sol, buscando compreender o propósito de tudo que o homem realiza. Dentro dessa busca incessante, Eclesiastes 2:26 surge como um versículo chave, oferecendo uma perspectiva teológica sobre a distribuição da sabedoria, conhecimento, felicidade e das riquezas. A Sabedoria Divina na Distribuição de Riquezas e Alegrias.
Eclesiastes 2:26 se insere em um contexto em que o Coélet, após experimentar diversas formas de prazer, riqueza e sabedoria humana, conclui que todas elas são "vaidade" (hebraico: hevel), ou seja, efêmeras, sem sentido duradouro, como "correr atrás do vento". No entanto, o versículo em questão parece oferecer um vislumbre de ordem e propósito dentro dessa aparente futilidade. Ele apresenta uma distinção clara na forma como Deus opera na vida de quem lhe agrada e na vida do pecador, especialmente no que se refere à posse e ao propósito das riquezas.
1. A Recompensa Divina para os que O Agradam
O texto afirma: "Ao homem que lhe agrada, Deus dá sabedoria, conhecimento e felicidade."
"Ao homem que lhe agrada": Esta expressão é crucial. Ela não se refere a um homem perfeito ou sem falhas, mas sim àquele que vive em temor a Deus, buscando obedecer aos Seus mandamentos e viver de acordo com Sua vontade. É uma postura de coração e uma direção de vida que agrada ao Criador. No contexto de Eclesiastes, onde o homem tenta de diversas formas encontrar propósito em si mesmo, agradar a Deus é o caminho que Coélet eventualmente reconhece como o único que traz verdadeira satisfação, Eclesiastes 12:13-14 "De tudo o que se ouviu, aqui está a conclusão: Tema a Deus e obedeça aos seus mandamentos, porque isso é o essencial para o homem. Pois Deus trará a julgamento tudo o que foi feito, até mesmo tudo o que está escondido, seja bom, seja mau."
"Deus dá sabedoria, conhecimento e felicidade": Estes são dons divinos.
A sabedoria (hebraico: chochmah) em Eclesiastes não é meramente intelectual, mas prática, uma capacidade de discernir e aplicar o conhecimento para viver de forma justa e bem-sucedida. É a habilidade de ver a vida da perspectiva de Deus.
O conhecimento (hebraico: da'at) está intrinsecamente ligado à sabedoria, referindo-se à compreensão profunda das coisas e dos caminhos de Deus.
A felicidade (hebraico: simchah) aqui não é uma alegria superficial ou baseada em circunstâncias passageiras, mas uma alegria profunda e duradoura que emana da paz com Deus e da satisfação em Seu propósito. Para Coélet, que viu a futilidade da alegria baseada apenas em bens materiais e prazeres (Eclesiastes 2:1-11 - Leia), essa felicidade vinda de Deus é algo de valor inestimável.
Esses dons são dados para que o homem possa desfrutar da vida de forma plena e significativa, mesmo em meio à transitoriedade da existência.
2. O Destino das Riquezas Acumuladas Pelo Pecador
Em contraste, o versículo continua: "Quanto ao pecador, Deus lhe dá a tarefa de ajuntar e armazenar riquezas para entregá-las a quem é do seu agrado."
"Quanto ao pecador": O "pecador" neste contexto é aquele que vive alheio a Deus, focado apenas em seus próprios interesses e na acumulação material, sem se importar com os princípios divinos. Ele busca segurança e satisfação nas riquezas, confiando nelas em vez de em Deus.
"Deus lhe dá a tarefa de ajuntar e armazenar riquezas": É importante notar que é Deus quem "dá a tarefa". Isso mostra a soberania divina mesmo sobre as ações dos ímpios. Eles trabalham, acumulam e guardam, muitas vezes com grande esforço e astúcia, mas seus bens não estão realmente sob seu controle final.
"Para entregá-las a quem é do seu agrado": Esta é a parte mais intrigante e, para o pecador, a mais frustrante. As riquezas acumuladas com grande esforço e avidez por aqueles que vivem sem Deus acabam por serem transferidas para as mãos daqueles que agradam a Deus. Isso demonstra a justiça e a providência divina, que reverte a aparente vantagem do ímpio, mostrando que a verdadeira segurança e prosperidade estão em Deus. É uma lembrança de que as riquezas, em si, não são o fim, mas um meio que Deus pode usar como Lhe apraz.
3. "Isso também é inútil; é correr atrás do vento."
A frase final serve como um resumo da perspectiva do Coélet sobre a vida sob o sol.
"Isso também é inútil": A palavra hevel (vaidade/inútil/sem sentido) ressoa novamente. Mesmo o trabalho árduo do pecador para acumular riquezas é, no final das contas, inútil para ele, pois não lhe traz satisfação duradoura nem garante a posse permanente. É um ciclo de esforço sem um benefício final para si mesmo.
"É correr atrás do vento": Esta metáfora vívida ilustra a futilidade de tentar agarrar algo intangível e inatingível. As riquezas acumuladas pelo pecador são como o vento: elas não podem ser contidas e, eventualmente, escapam de suas mãos, indo para outro. A busca desenfreada por bens materiais, sem um propósito maior em Deus, é uma atividade exaustiva e sem resultados substanciais.
Eclesiastes 2:26, portanto, oferece uma perspectiva teológica profunda sobre a administração divina da vida e das posses. Ele não anula a busca por trabalho e prosperidade, mas a ressignifica. O valor e o propósito da vida não estão na acumulação de riquezas, mas em agradar a Deus.
Para aqueles que vivem em harmonia com a vontade divina, Ele concede os dons verdadeiramente valiosos: sabedoria, conhecimento e uma felicidade que transcende as circunstâncias materiais. Para o pecador, a acumulação de riquezas se torna uma tarefa árdua e, em última análise, vazia, pois esses bens serão direcionados por Deus para Seus próprios propósitos.
O versículo é um lembrete da soberania de Deus e da importância de buscar, acima de tudo, uma vida que O honre, pois somente Nele se encontra o verdadeiro sentido e a plena satisfação.
"Busque a Deus acima de tudo, pois Nele reside a verdadeira sabedoria, o conhecimento que liberta e a felicidade que jamais o vento poderá levar."









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