Entregar a Deus não é fatalismo
- Rodrigo Guerra

- 10 de jun. de 2024
- 6 min de leitura
Atualizado: 17 de set. de 2024
lançando sobre ele toda a sua ansiedade, porque ele tem cuidado de vós.
1PEDRO 5.7
A entrega a Deus é bem diferente do fatalismo, que é passiva, revelada por frases como: “Se isso é vontade de Deus, que posso eu fazer?”. Assim, as pessoas simplesmente se submetem ao destino. Isso é passividade e não é o ensinamento da Escritura. A entrega a Deus é algo bastante positivo, pois se trata de entregarmos a nós mesmos a Deus de tal modo a capacitá-lo a cumprir Sua vontade em nós.
Se não nos entregamos a Deus, Ele não tem como realizar Sua vontade, Seu propósito em nossa vida. A única maneira de Deus operar Sua vontade em nós é por meio de nossa entrega total a Ele. Isso não significa apenas entregar coisas, mas desistir de nós mesmos, e não é apenas desistir, mas é entregar-nos a Ele.
Se lermos a vida dos santos, conforme os registros do Antigo e do Novo Testamento, veremos que existe uma característica comum a todos eles. Em todos aqueles que receberam testemunho da parte de Deus vemos isto: a entrega de si mesmos a Deus. Vejamos alguns exemplos.
O patriarca Jó - Parte 1
Jó era um homem perfeito e íntegro, que temia a Deus e se afastava do mal (1.1). Um dia, os filhos de Deus, os anjos, se reuniram diante d'Ele, e Satanás se apresentou no meio deles. Deus, então, desafiou a Satanás e ele disse: “O que você tem feito esses dias?”. Sabe o que ele respondeu? “Tenho andado e rodeado a terra.” Ele é um viajante mundial. Ele viaja, andando e rodando por toda a terra. Mas ele não é um turista. Todas as suas viagens têm um propósito perverso. Deus, então, disse: “Observe meu servo Jó, que é perfeito e íntegro, que teme a Deus e se afasta de todo mal? Você já o percebeu?” (vv. 6-8).
Certamente Satanás o houve! De todas as pessoas que existem no mundo, nenhuma delas foi mais cuidadosamente observada por Satanás do que Jó, que era como um alimento muito nutritivo, e Satanás queria devorá-lo. Que homem bom era Jó! Satanás o observou atentamente, mas não encontrou maneira de atacá-lo.
Sempre imagino que Deus poderia me usar para desafiar Seu adversário. Eu não sou digno. Deus não pode me usar para desafiar Satanás. Deus pode usar você para desafiar Seu adversário? Mas Ele poderia usar Jó para desafiar Seu inimigo e opositor.
Oh, quão sutil foi Satanás. Ele disse a Deus: “São muitos os motivos para Jó temer a Ti; Tu puseste uma cerca ao redor dele”. Satanás tentou chegar a Jó por todos os lados, mas descobriu que havia uma cerca ao redor daquele homem impedindo sua entrada. Por isso, disse: “Tu colocaste uma cerca ao redor dele e o protegeste; Tu abençoaste o trabalho de suas mãos fazendo-o prosperar; quem não te temerá? Jó não te teme; ele só quer Tua vitória. Se tirares todas essas coisas dele, ele Te amaldiçoará!”. Deus disse: “Está bem! Aceito o desafio. Você pode fazer o que desejar com ele, mas não toque em sua vida” (vv. 9-12).
Jó Perde os Filhos e os Bens (vv. 13-19)
Ocorreu, Satanás saiu e, num só dia, destruiu tudo o que Jó possuía. Não apenas suas propriedades, pois ele era um homem rico, mas todos os seus filhos foram tirados. Jó se declarou, rasgou as vestes, rapou a cabeça e adorou a Deus. Jó experimentei grande dor no coração e sofreu muito e, ainda assim, adorou a Deus. Ele disse: “Nu saí do ventre de minha mãe e nu voltarei; o SENHOR o deu e o Senhor o tomou; bendito seja o nome do SENHOR!” (v. 21). Ele foi um homem que se entregou totalmente a Deus!
Jó Perde a Saúde (2.1-7)
Certo dia, depois de isso acontecer, os anjos novamente se reuniram diante d'Ele e Satanás também. Deus novamente desafia a Satanás e lhe diz: “Você fez o que pediu; o que aconteceu?”. Oh, quão sutil foi Satanás. Ele disse: “Pele por pele, e tudo quanto o homem tem que dar pela sua vida. Estende, porém, a mão, toca-lhe nos ossos e na carne e verás se não blasfema contra ti na tua face” (vv. 4-5). Deus disse: “Está bem. Você pode tocar no corpo de Jó, mas não pode tirar sua vida”. Contudo, Satanás saiu e feriu todo o corpo de Jó com úlceras. Jó se assentou num monte de cinzas e com um pedaço de telha raspada as feridas. Até sua esposa veio e lhe disse: “Amaldiçoa a Deus e morre”. Jó disse: “Não! Se de receber Deus o que é bom, não imaginamos d'Ele o que é ruim?” (v. 10). Em tudo isso ele não pecou. Jó era um homem totalmente entregue a Deus!
Jó e a Fortaleza do Ego
Mas a entrega não foi fácil. Jó era forte diante de seus inimigos, mas quando foi cercado por seus amigos, revelou-se ainda mais forte e sua entrega a Deus não foi total. Quando seus amigos chegaram confortavelmente, acabaram discutindo com ele. Então, encontramos Jó dizendo: “A verdade que é que ainda que Deus me mate, ainda assim crerei n'Ele. Mas eu exijo uma audiência; quero uma explicação. Não entendo por que tais coisas me acontecem. Estou pronto a morrer e não abandonarei minha fé, mas exijo uma audiência e uma explicação!” (13,3; 18-22; 23,2-5). Essa é a atitude de uma pessoa que foi entregue totalmente a Deus? Se você está totalmente entregue a Deus, não pede explicação: Deus mesmo é sua explicação.
Jó Recebe Tudo de Volta em Dobro (42.10-17)
Quando chegamos ao final do livro, vemos que Jó, por meio da prova, entrou no espírito da entrega total a Deus. Ouça o que ele diz ao Senhor: “Bem sei que tudo pode, e nenhum dos teus planos pode ser frustrado. Quem é aquele, como disseste, que sem conhecimento encobre o conselho? Na verdade, falei do que não entendia; coisas maravilhosas demais para mim, coisas que eu não conhecia. Escuta-me, pois, havias dito, e eu falarei; eu te perguntarei, e tu me ensinarás. Eu te conheci só de ouvir, mas agora os meus olhos te veem. Por isso, me abomino e me arrependo no pó e na cinza” (vv. 2-6). E quando atingiu aquele ponto, Jó entrou definitivamente no espírito da entrega total. Ele nem mesmo pediu a Deus uma explicação – ele estava satisfeito com Deus. Isso é entrega total! Então, Deus deu a Jó uma vitória em porção dobrada (v. 10).
Ó Senhor Jesus
Creio que todos desejamos ser verdadeiros discípulos de Cristo: queremos seguir o Senhor e estar onde Ele está; queremos viver como Ele viveu. Mas qual é a vida do nosso Mestre? Se você puder ver a vida do Senhor Jesus, descobrirá que a vida d'Ele foi uma vida de entrega total, uma vida totalmente entregue a Deus.
Estamos familiarizados com a passagem dos Filipenses 2, que diz que o Senhor Jesus era igual a Deus, mas não atualmente isso como algo a que devesse se agarrar. Por ser o Filho eterno de Deus, Ele é igual a Deus desde a eternidade; no entanto, Ele se esvaziou. Ele desistiu de Seus direitos como Deus; Ele desistiu de si mesmo. Ele tomou a forma de escravo, a semelhança de homem, humilhou-Se a Si mesmo, sendo obediente a Deus, Seu Pai, até a morte e morte na cruz (vv. 6-8). A entrega do Senhor Jesus a Deus Pai foi total! Durante toda a Sua vida, Ele nunca teve seus direitos. Ele disse: “Nada posso fazer por Mim mesmo, a não ser aquilo que o Pai estiver fazendo. Não posso dizer nada por Mim mesmo, senão o que ouvi de Meu Pai” (Jo 8.28; 14.10). Vemos que, em toda a Sua vida, Ele entregou ao Pai Sua liberdade, Seus direitos, Suas razões. Cristo entregou todo o Seu ser a Deus e deixou que Deus tivesse tudo d'Ele.
Essa é a vida do nosso Senhor Jesus. E que vida maravilhosa é essa! Em Sua vida não existe preocupação, tensão, hesitação, reservas. É uma vida livre. Ele está acima de qualquer tentativa, porque foi entregue completamente a Deus. É uma vida tão poderosa que venceu não apenas o pecado, mas também o Inimigo dos séculos. É uma vida muitíssimo linda, cheia de glória e caracterizada por uma coisa: a entrega absoluta de Si mesmo!
Vida de Entrega Total
Gostaria de compartilhar algo que acredita ser emancipador, libertador e poderoso: Entrega Total a Deus. Isso pode ser uma surpresa para você, mas não existe nada no mundo que traga maior liberação do que uma entrega total a Deus. Não existe vida mais poderosa do que a vida de entrega total.
É muito difícil, é verdade, fazer uma entrega de nós mesmos. É difícil para nós abandonarmos coisas que temos, quanto mais deve ser entregar-nos a nós mesmos! Como nos apegamos a nós mesmos! Temos medo de nos perder! Pensamos que perdemos a nós mesmos, perdemos tudo! Do ponto de vista da carne, isso é verdade, mas quanto ao Espírito é o oposto. A menos que saibamos como nos entregar a Deus, não poderemos entrar na vida que Ele preparou para que vivêssemos.
“...a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo...” (Filipenses 2.7).
“Não que eu procure o doativo, mas o que realmente me interessa é o fruto que aumenta o crédito seu” (Filipenses 4.17).
“SENHOR, não é sóbrio o meu coração, nem altivo o meu olhar; não ando à procura de grandes coisas, nem de coisas maravilhosas demais para mim. Pelo contrário, fiz calar e sossegar a minha alma; como uma criança desmamada se aquieta nos braços de sua mãe, como essa criança é a minha alma para mim. Espera, ó Israel, no Senhor, desde agora e para sempre” (Salmos 131).









Comentários