A formação do Cânon Bíblico
- Rodrigo Guerra
- 20 de mar.
- 6 min de leitura
Atualizado: 11 de jun.
A formação do cânon bíblico é um tema fascinante e complexo, que nos leva a uma jornada através da história da fé judaico-cristã. Ao explorar esse processo, mergulhamos nas origens das Escrituras Sagradas, compreendendo como os livros que compõem a Bíblia foram selecionados, reconhecidos e preservados ao longo dos séculos.
Este estudo nos convida a desvendar os critérios que guiaram a escolha dos textos, as comunidades que desempenharam papéis cruciais nesse processo e as diferentes versões do cânon que surgiram ao longo do tempo. Ao compreendermos as nuances da formação do cânon, somos capacitados a apreciar a riqueza e a diversidade das Escrituras, bem como a importância da tradição e da interpretação na fé cristã.
Antes de começar a falar sobre o Cânon Bíblico precisamos entender como era antes da escrita da Bíblia.
Vocalização
A vocalização da Bíblia antes de sua forma escrita é um tema complexo que nos leva a explorar as raízes da transmissão das Escrituras Sagradas. Antes da escrita se tornar predominante, a tradição oral desempenhou um papel crucial na preservação e disseminação das histórias, leis e profecias bíblicas.
A Tradição Oral:
Memória e Repetição:
Em culturas antigas, a memória era altamente valorizada. As histórias bíblicas eram transmitidas de geração em geração através da repetição e memorização.
Os bardos, profetas e líderes religiosos desempenhavam um papel fundamental na preservação dessas tradições orais.
Ritmos e Melodias:
A poesia e a música eram ferramentas importantes para facilitar a memorização. Os Salmos, por exemplo, eram cantados e recitados em rituais religiosos.
A musicalidade ajudava a fixar as palavras na memória e a transmitir as emoções e significados dos textos.
Contexto Comunitário:
As histórias bíblicas eram contadas em contextos comunitários, como festivais religiosos e reuniões familiares.
Essa transmissão oral permitia que as pessoas interagissem com as histórias, fazendo perguntas e compartilhando suas próprias interpretações.
Referência Bíblica:
O próprio pentateuco, possui diversas leis e mandamentos que ordenam a transmissão oral da lei de geração em geração. Como em Deuteronômio 6:4-9, onde é ordenado ensinar os mandamentos aos filhos, falar deles em casa, na rua, ao deitar e ao levantar.
A Transição para a Escrita:
Desenvolvimento da Escrita:
Com o desenvolvimento da escrita, as tradições orais começaram a ser registradas em pergaminhos e outros materiais.
Esse processo de transição levou séculos, e a Bíblia foi sendo escrita gradualmente por diferentes autores.
Preservação e Padronização:
A escrita permitiu a preservação e padronização dos textos bíblicos, evitando variações e erros na transmissão oral.
Os escribas desempenharam um papel fundamental na cópia e preservação dos manuscritos bíblicos.
O Trabalho dos Massoretas:
Os massoretas, eruditos judeus medievais, tiveram um papel crucial na vocalização do texto hebraico consonantal.
Eles desenvolveram um sistema de sinais vocálicos para garantir a pronúncia correta das palavras e evitar ambiguidades na interpretação.
Agora podemos entrar no assunto do titulo deste post: A formação do Cânon Bíblico
O processo de seleção
O processo de seleção dos livros que compõem a Bíblia é um tema complexo e fascinante, que envolve diversos critérios e o papel fundamental das comunidades religiosas ao longo da história.
Critérios de Seleção:
A definição dos critérios para a inclusão de um livro no cânon bíblico variou entre o Antigo e o Novo Testamento, mas alguns princípios gerais podem ser observados:
Autoria Profética/Apostólica:
No Antigo Testamento, a autoria profética era um critério crucial. Livros atribuídos a profetas reconhecidos, como Moisés, Isaías e Jeremias, tinham grande peso.
No Novo Testamento, a autoria apostólica ou a proximidade com os apóstolos era fundamental. Os Evangelhos, por exemplo, são atribuídos a Mateus, Marcos, Lucas e João, que eram apóstolos ou companheiros próximos de Jesus.
Referência Bíblica: 2 Pedro 1:20-21 destaca a importância da inspiração divina nos profetas.
Conformidade com o Ensino Estabelecido:
Os livros deveriam estar em consonância com o ensino e a fé já estabelecidos nas comunidades religiosas.
No Antigo Testamento, a Lei de Moisés servia como um padrão de referência. No Novo Testamento, o ensino de Jesus e dos apóstolos era o guia.
Reconhecimento pela Comunidade:
O reconhecimento e a aceitação dos livros pelas comunidades religiosas eram essenciais.
Livros que eram amplamente utilizados e considerados inspirados pelas igrejas tinham maior probabilidade de serem incluídos no cânon.
Uso Litúrgico:
O uso dos livros em cultos e celebrações religiosas também influenciou sua aceitação como Escritura Sagrada.
O Papel das Comunidades Religiosas:
As comunidades religiosas desempenharam um papel crucial na preservação e reconhecimento dos textos sagrados:
Preservação:
As comunidades judaicas e cristãs se dedicaram à cópia e preservação dos manuscritos bíblicos ao longo dos séculos.
Os escribas e copistas desempenharam um papel fundamental na transmissão fiel dos textos.
Reconhecimento:
As comunidades religiosas, por meio de seus líderes e concílios, debateram e decidiram quais livros seriam incluídos no cânon.
O Concílio de Jâmnia, no final do século I d.C., foi um marco importante na definição do cânon hebraico.
Os concílios de Hipona (393 d.C.) e Cartago (397 d.C.) foram importantes para a definição do cânon do Novo Testamento.
Uso e Disseminação:
As comunidades religiosas utilizaram os livros bíblicos em seus cultos, estudos e ensinamentos, contribuindo para sua disseminação e autoridade.
Referência Bíblica: Neemias 8:1-8 descreve a leitura pública da Lei por Esdras, demonstrando a importância da comunidade na recepção e interpretação das Escrituras.
Considerações Finais:
O processo de seleção do cânon bíblico foi um processo histórico complexo, guiado por critérios teológicos e pelo reconhecimento das comunidades religiosas. A compreensão desse processo nos ajuda a apreciar a riqueza e a autoridade das Escrituras Sagradas.
As diferentes versões do cânon:
Existem diferentes versões do cânon, com variações significativas entre o cânon judaico, o católico e o protestante.
Variações entre os Cânones:
Cânon Judaico (Tanakh):
Consiste em 24 livros, divididos em três seções: Torá (Lei), Nevi'im (Profetas) e Ketuvim (Escritos).
Não inclui os livros deuterocanônicos.
A ordem dos livros difere da versão cristã.
Cânon Católico:
Inclui 46 livros no Antigo Testamento, que incluem os livros deuterocanônicos (Tobias, Judite, 1 e 2 Macabeus, Sabedoria, Eclesiástico e Baruque, e adições a Daniel e Ester).
O Novo Testamento contém 27 livros, iguais aos do cânon protestante.
Cânon Protestante:
Segue o cânon hebraico para o Antigo Testamento, com 39 livros.
Exclui os livros deuterocanônicos, que são chamados de apócrifos.
O Novo Testamento contém 27 livros.
História da Inclusão/Exclusão:
Livros Deuterocanônicos:
A Septuaginta, a tradução grega do Antigo Testamento, incluía os livros deuterocanônicos, o que influenciou a formação do cânon católico.
A Reforma Protestante questionou a inclusão desses livros, defendendo o cânon hebraico como o único autorizado.
A controvérsia sobre os livros deuterocanônicos remonta aos primeiros séculos do cristianismo, com diferentes opiniões entre os pais da igreja.
Formação do Cânon:
O processo de canonização foi gradual e envolveu debates e decisões de comunidades religiosas.
O Concílio de Jâmnia (cerca de 90 d.C.) foi um marco importante na definição do cânon hebraico.
Os concílios de Hipona (393 d.C.) e Cartago (397 d.C.) foram relevantes para a definição do cânon do Novo Testamento.
A importância da história:
A história desempenha um papel fundamental na formação do cânon bíblico, moldando o contexto em que os livros foram escritos, selecionados e interpretados. O contexto histórico e cultural influenciou a formação do cânon, assim como as diferentes versões do cânon impactaram a teologia e a prática cristã.
O Contexto Histórico e Cultural:
Antigo Testamento:
A formação do cânon hebraico ocorreu em um contexto de mudanças políticas e sociais no antigo Israel.
O exílio babilônico e o retorno a Jerusalém influenciaram a preservação e a organização dos textos sagrados.
O desenvolvimento do judaísmo rabínico no período pós-exílio também moldou a definição do cânon.
Novo Testamento:
A formação do cânon do Novo Testamento ocorreu nos primeiros séculos do cristianismo, em um contexto de perseguição e expansão da fé cristã.
A necessidade de definir quais escritos eram autoritativos para a igreja nascente levou à seleção dos livros do Novo Testamento.
As controvérsias teológicas e as heresias também influenciaram a definição do cânon.
Referências Bíblicas:
A Bíblia em si é um documento histórico, com relatos de eventos e personagens que moldaram a história do povo de Israel e da igreja cristã.
A compreensão do contexto histórico é essencial para a interpretação correta das Escrituras.
O Impacto das Diferentes Versões do Cânon:
Diferenças Teológicas:
A inclusão ou exclusão dos livros deuterocanônicos influencia a teologia das diferentes tradições cristãs.
Por exemplo, os livros deuterocanônicos fornecem informações importantes sobre a história e a teologia do período intertestamentário.
Prática Cristã:
As diferentes versões do cânon influenciam a forma como as Escrituras são utilizadas na liturgia, no ensino e na devoção pessoal.
A leitura e o estudo dos livros deuterocanônicos são mais comuns na tradição católica, enquanto a tradição protestante tende a se concentrar nos livros do cânon hebraico.
Referências Bíblicas:
A interpretação de passagens bíblicas pode variar dependendo da versão do cânon utilizada.
Por exemplo, a compreensão de certas passagens sobre a oração pelos mortos pode ser influenciada pela inclusão ou exclusão dos livros deuterocanônicos.
A história é essencial para a compreensão da formação do cânon bíblico e do impacto das diferentes versões do cânon na teologia e na prática cristã. O estudo do contexto histórico e cultural nos ajuda a interpretar as Escrituras de forma mais precisa e a apreciar a riqueza da tradição bíblica.
O estudo do cânon bíblico revela um processo complexo e multifacetado, que se estendeu por séculos e envolveu diversas comunidades religiosas. Ao explorarmos a formação do cânon, compreendemos a importância da tradição, da história e da interpretação na fé judaico-cristã.
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